Não sei se vocês já assistiram um filme chamado Busca Implacável. Um amigo me emprestou quando soube que eu ia morar na França e a Globo passou o filme dois sábados antes da minha vinda para cá.
O filme, com Liam Neeson, conta a estória de um ex-agente do governo americano que passou a maior parte da vida fazendo atividades secretas e se aposentou para ter mais tempo para a família. Sua filha resolve viajar para Paris com uma amiga para acompanhar uma tourne do U2, mas acaba sendo sequestrada por árabes assim que chega a cidade para ser vendida como prostituta no Oriente Médio.
Como o filme mostra uma realidade da cidade e do país (com todos os exageros hollyoodianos) a ideia era um alerta para minha postura em relação às pessoas que me abordassem. Dito isto, seguem os acontecimentos...
Quinta-feira, dia 17 de novembro, fui para Paris encontrar minha irmã que, graças a Deus, pode vir me visitar e diminuir um pouco minha solidão.
Peguei um TGV de Aix-en-Provence para Paris, 3 horas de viagem (são 600km de Aix para Paris). Já na Gare (estação) do TGV em Paris perguntei a uma pessoa no setor de informações como se chegava ao aeroporto de Orly e descobri que o trajeto era longo: metrô, RER (que é um trem) e um ônibus para finalizar.
Peguei meu metrô tranquilamente e enquanto esperava o RER chegou um rapaz que me perguntou algo que não entendi. Depois de tanta viagem já não queria mais perder tempo e falei logo que não falava francês e que não morava em Paris, portanto, não poderia ajudá-lo.
Ele foi embora, mas voltou um tempo depois e perguntou:
- Você fala inglês?
- Não.
- Espanhol?
- Não. Falo português. Mas pode falar em espanhol que eu entendo.
- O RER ainda vai demorar 10 minutos para chegar.
- Ok, obrigada.
(silêncio...)
- Você está indo para onde?
- Aeroporto de Orly.
- Acredito que este não é o melhor caminho. Você pode pegar o metrô 14, descer na estação "tal" e lá existe um ônibus direto para o aeroporto do Orly.
- Ah, é?! Foi neste metrô que vim. Ok, vou descer e pegá-lo novamente. Muito obrigada.
Segui meu caminho carregando uma mala de 30kg sozinha. Desci as escadas (sem ser rolante, claro!!!) e quando já estava indo para a estação do metrô ouço atrás de mim:
- Espera ai, eu também vou!
Sim, era o cara... Comecei a desconfiar... No mesmo momento percebi que ele era muito parecido do ator que fazia o papel de olheiro no filme Busca Implacável. A função deste ator era descobrir o endereço das moças que deveriam ser sequestradas. Um rapaz bonito, mas não tanto para chamar a atenção e nem pouco para que uma moça não desse um largo sorriso e dividisse um táxi com ele.
- Mas você vai para o mesmo lugar? Você não ia pegar o RER? (conversa já em francês)
- Sim, mas o RER está em greve. Eu vou pegar o mesmo metrô que você, mas vou descer bem depois, mas posso te acompanhar até a estação que você deve descer. Você está indo pra Portugal? Ou é brasileira?
- Sou brasileira.
- Mas você passeando aqui na França?
- Não, moro aqui, mas em outra cidade.
- E o que você veio fazer aqui?
- Faço doutorado.
- Em quê?
- Administração.
- Ah... Mas você mora onde?
- Em Aix-en-Provence.
- Que coincidência, eu também moro lá!
(... medo...)
- Ah, é? Que coincidência mesmo... Pois é, muitas pessoas na França falam umas três línguas, né? Muita gente fala espanhol!
(... tentando mudar de assunto...)
- Não sei, eu morei na Espanha. Mas e você, mora onde em Aix?
- Perto da Cours Mirabeau.
- Mas perto da Rotonde ou do outro lado?
- Perto da Rotonde.
(... mentira, moro pro outro lado...)
- E você está fazendo o que aqui em Paris?
- Vim encontrar toda a minha família que veio me visitar e passar uns tempos comigo.
(... minha irmã virou minha família inteira...)
- Eu morei aqui em Paris durante 5 anos, aqui é maravilhoso. Do Brasil eu conheço uma cantora que ouço sempre, Marisa Monte, e um outro que se chama Vinícius Cantuária.
- É... Eles são ótimos.
- Eu vim hoje para Paris para visitar uma rádio, mas amanhã já volto para Aix, então você tem papel e caneta?
- Tenho sim, está aqui.
(... ele anotou o nome e telefone...)
- Me liga se quiser tomar uma cerveja ou um vinho.
- Ok, ligo sim. Eu não tenho celular, mas eu ligo sim.
Ai chegou a minha parada e eu sai correndo sem nem olhar para trás. Claro que disse um milhão de mercis, disse que ele era gentil - aqui na França eles têm muito este costume de dizer que a pessoa é gentil quando ela faz um favor - e sai literalmente correndo, neste caso, de medo.
Peguei meu ônibus para o aeroporto me sentindo segura e feliz por ter me livrado finalmente daquela situação.
Já no aeroporto de Orly descobri que existem dois terminais: o sul e o oeste. Como tinha 50% de chance de acertar segui para o terminar sul e, com sempre, errei. De lá segui a pé para o outro terminal... Foi quando vi que a cena em que este rapaz é morto atropelado no filme foi gravada exatamente entre um terminal e outro!!! Fiquei olhando aquele lugar e relembrando a cena do filme, relembrando meu trajeto até o aeroporto...
O que posso dizer?! Só posso agradecer meus amigos queridos que me alertaram, a TV Globo por ter passado novamente o filme e ao meu pai que me avisou que ele não tem talentos especiais para me resgatar aqui, então só me resta me cuidar - e muito!!!
Marisa Monte e Vinícius Cantuária não são exatamente ícones internacionais e pelo jeito ele conhecia Aix mesmo. Não estava mentindo tanto assim.
ResponderExcluirAcho que o cara não queria te sequestrar, estava era te cantando! Hehehehehe
Lu, adorei o post, mas penso como a Má, podia ser uma cantada.. anotou o número dele??
ResponderExcluirObaaaaaaaaa, nem acredito que conseguir fazer um comentário.. ufaaaa...
ResponderExcluirO número dele está bem guardado em algum lixo de Paris!!! ehehehe
ResponderExcluirTenso, né ?!!Quando soube que vc ia paraa França, só lembrei desse filme e pensei: Minha tia não pode ver !!!!!! rsrsrs
ResponderExcluirComo a gente fica pilhada com essas coisas de filme, né ?!! Mas tb acho que era somente uma pessoa interessante que viu outra pessoa interessante e quis conhecer!!!